quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Imperdível - Teresa Poester e Dado Dagueur

Sessão comentada - Processos e criação

Domingo 13 de setembro às 19 h
Santander Cultural
Rua Sete de Setembro, 1028
Porto Alegre - RS
CEP: 90010-191
51 3287.5996
51 8187.0693

JANELAS
Poa, 1997, cor, 4 min, em português
curta de Ana Luiza Azevedo
sobre o trabalho em pintura da série "Janelas" de Teresa Poester

DADO TAGUEUR
França, DV, 2004, cor, 70 min
falado em francês, legendas em inglês
entrada franca, exibição única

Jorge Amat acompanha Dado pintando a Capela de Gisors de 1999 a 2004.
É uma pequena capela que ficava dentro de um leprosário na Normandia.
Dado é dos poucos pintores expressionistas da França.
Nascido, na realidade, em Montenegro, em 1933,
é um dos artistas homenageados da Bienal de Veneza de 2009.


O filme “Dado tagueur” de Jorge Amat, sobre os afrescos na Capela de Saint Luc, seguido de uma conversa com Teresa Poester, será exibido domingo dia 13 de setembro às 19h no cinema do Santander Cultural como parte das atividades antes da Bienal do Mercosul cujo foco será processos de criação em arte.
O texto abaixo conta o encontro dos artistas gaúchos Teresa Poester e Guilherme Imhoff com Dado.
tagueur - pichador em francês
Em 2003, os gaúchos Guilherme Imhoff, fotógrafo, e Teresa Poester, artista plástica e professora,
viviam na França e descobriram os afrescos pintados por Dado, na Capela Saint Luc
de um leprosário do século XIII, recentemente restaurada em Gisors, na Normandia.
No ano seguinte, Guilherme Imhoff faleceu em Porto Alegre aos 26 anos após um longo período documentando a fronteira entre o Brasil e a Guiana, era o ano do Brasil na França.
Este ano da França no Brasil, Dado é homenageado na Bienal de Veneza. O pintor tem 76 anos e é quase desconhecido no Brasil. Os afrescos da capela, tombada como monumento histórico e ainda fechada ao público, constituem seu grande legado artístico.
Dado
e a pintura da Capela de Saint Luc
Reconhecido na Europa desde os anos cinqüenta Dado é um dos pintores vivos mais instigantes, uma espécie de último dos moicanos no território ermo da pintura expressionista contemporânea, especialmente na França. Miodrag Djuric nasce em Montenegro em 1933 e chega a Paris em 1956, onde descobre a geração de pintores que o influenciarão como Roberto Matta e Jean Dubuffet. Mas é Henri Michaux que marcará mais profundamente sua vida e seu trabalho. Como Michaux, ele soube criar um universo de trevas e, embora seus trabalhos iniciais tenham vínculos com o surrealismo, nunca pôde ser rotulado num movimento.
Com sua mulher Hessie, pintora cubana, o artista vive há mais de 40 anos num antigo moinho em Hérouval, perto de Gisors na Normandia, onde nos receberam para conversar sobre os afrescos de Saint Luc, capela do antigo leprosário recentemente restaurado na região.
A primeira visão do lugar provoca um impacto inesquecível. Somos remetidos imediatamente ao “Juízo Final” de Miguel Ângelo, embora a capela, com seus muros de cimento tosco, em nada se assemelhe à Capela Sistina. Os personagens de Dado, monstrengos inofensivos, tampouco em nada se assemelham aos corpos vigorosos pintados por Miguel Ângelo. Trata-se do “Juízo Final” de Dado.
As paredes, que parecem cobertas de grafites, revelam uma enorme sofisticação técnica. O vigor do trabalho está no movimento de um traço feroz. O pintor jamais abandonou o desenho. É na linha que sua energia se desprende, provoca explosões e contêm-se para liberar-se numa pulsão de vida e morte. Seus pequenos monstros representam a encarnação viva dos leprosos que jazem ali, enterrados literalmente sob nossos pés.
“Sou um dramaturgo frustrado” diz Dado ao iniciar sua jornada de trabalho. De fato, o mistério do ambiente e das coisas na capela constitui uma cena de teatro. A impressão é a mesma a cada vez que a porta se abre e deixa penetrar um rasgo de sol. A escuridão interna contrasta com a luz exterior. Dado, assim como os impressionistas, escolheu a Normandia pela sua luminosidade. O céu cria um filtro que abranda a incidência do sol. No entanto, o conteúdo de sua obra contraria em tudo à leveza impressionista. Sua pintura é densa, do ponto de vista formal e semântico. Sua tarefa é dissecar a realidade nas suas vísceras mais profundas. O desenho é agudo. A ponta do lápis funciona como um bisturi que penetra a carne dos animais e das coisas.
O pintor contracena com as leis da gravidade. Durante os anos oitenta, quando trabalhava o universo dos invertebrados, o peso das suas figuras diminui, mas a densidade da linha aumenta. “Os personagens na capela flutuam no ar enquanto seus pesos variam entre 20 e 30 kg”, diz Dado, “o peso de um velho ou de uma criança de oito anos”.
No limite do prazer e da dor, o artista é um colecionador de escombros. Seus trabalhos são construídos de antigos desenhos, pinturas, colagens, pedaços de fotos objetos, esqueletos, ossos; tudo é aproveitado. Sua obra flui como uma hemorragia.
“Comecei como os homens das cavernas, pelas paredes” conta Dado, que pintou as paredes de casa, ainda criança, após a morte de sua mãe. E agora, com mais de 75 anos, desde que começou os afrescos na capela, sua pintura sofre um novo impulso. A história do antigo leprosário é um terreno propício onde o pintor pode semear e colher os frutos de um longo aprendizado de cinzas.
Sabe-se que Saint Luc é padroeiro dos pintores e dos médicos. A pintura na Capela tem também uma função terapêutica. Se hoje serve para fertilizar o exercício de um trabalho em constante mutação, servirá um dia para fascinar os visitantes e abrandar suas penas.

Teresa Poester
Artista Plástica
Professora do Instituto de Artes da UFRGSl
www.teresapoester.com.br
Eragny sur Epte 2003/2009

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